Ele se
posicionou com esmero de um caçador, à espreita do foco. Concentrado,
silencioso. Todo cuidado seria pouco no momento e o silêncio instaurado lhe era
providencial. Nem um pio da mais inquieta ave. Nem o triturar de insetos nas
folhas secas. Nem o vôo lépido e primaveril de um beija flor.
Tencionava registrar
aquele momento único e a dúvida seria o quando captar, apertar o gatilho e
imortalizar a cena. Em qual passo, do pé direito ou esquerdo, em qual momento
seria ideal. Talvez em nenhum, talvez em todos porque todos seriam únicos e
nenhum seria comum. Seu objeto de imagem, contudo, caminhava em volta da lagoa,
ambos em sua solidão, já que ele seria o único a passear em sua orla e ela era
nada mais que água de um brilho esverdeado, sem o habitual navegar dos patos e
cisnes. Sequer um barquinho sacudindo sua calma. Até as carpas assanhadas com
visitas e comidas pareciam dormir na bucólica paisagem. O fotografo, acostumado
ao vai e vem de crianças com coloridos algodões doces, ao passeio do barulhento
trenzinho e o ranger das velhas máquinas do parque municipal, estranhava, sobremaneira,
a pasmaceira em plena manhã de sábado. Pareciam haver combinado ele, o velho e todo
o parque acerca dos atores participantes do inusitado ato.
Enfim, disse a
si mesmo, como sentença: “Olha o passarinho!”, e um rápido flash imortalizou o
momento. Meditou por alguns segundos o derradeiros passos que vira do velho, posto que
este fosse desaparecendo de sua visão como se o seu objetivo também, qual seria
expor para o registro fotográfico, houvesse sido concluído. Segundos após o
clique não se visualizava mais sua silhueta e nada que comprovasse sua passagem
por ali.
O fotógrafo
agradeceu mentalmente a cumplicidade daquele que fora fotografado sem ao menos
perceber. Buscou checar o produto de sua ação, ainda meditativo. Viu congelados
os passos do velho, tão calmos quanto à lagoa. Ao fundo, centenárias arvores
circundavam o parque e auxiliavam em compor o sedutor cenário. Mais além, do
lado externo, construções imponentes autenticavam a selva de pedra, com altos edifícios
de onde, por suas janelas, moradores supostamente contemplavam o cercado verde
e gorjeante no coração da capital mineira. A foto exibida não deixava dúvidas quanto
à beleza e o registro incomum de apenas uma pessoa passeando em volta do
pequeno lago. Remetia à solidão. Entretanto, não revelava se esta seria do
velho em seu solitário passeio, da incomum manhã do parque, ora anfitrião e
requisitado, ou até de seu criador, mero observador e caçador de relíquias.